Ligado à questão da ACOMODAÇÃO de que tratei no tema "Quem roubou nossa coragem..." (clique para ler), existe uma outra frase na música "Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto" do Legião Urbana que também me chamou muito a atenção:
"Tudo é dor,
"Tudo é dor,
E toda dor vem do desejo
De não sentimos dor."
Ninguém "normal" gosta de sentir dor, é claro. Só que chegamos a extremos de termos tanto medo de situações que podem nos causar dor ou sofrimento, que este medo já gera dor e sofrimento. É impressionante como passamos a vida sofrendo por antecipação por algo que nem sabemos realmente se vai acontecer ou se vai causar realmente tanta dor!
Penso que a acomodação excessiva de que falei no outro tema também é vilã nesta questão, pois os tais confortos acabam nos acostumando de uma tal forma que perder um destes "confortos" significa, para alguns, o caos. E, novamente falando de extremos, para alguns qualquer vento contrário, qualquer situação que ameace um destes confortos causa sofrimento. Para estes, realmente, "tudo é dor" e a simples possibilidade de passar por essa "dor" já causa um sofrimento antecipado. Neste caso, o "desejo de não sentirmos dor" já causa dor - que coisa malluca, não??!
Santo Agostinho, ao escrever suas "Confissões", fala algo que pode nos ajudar neste assunto. Ao tocar no assunto do passado, presente e futuro, ele fala que o passado é algo presente apenas na memória e o futuro é algo que ainda se espera. Estes dois tempos, na realidade, não existem "fisicamente". Só existe realmente o presente e este mesmo dura um tempo infinitesimal (que tende a zero) pois, se durasse mais, uma parte dele já seria passado e outra parte ainda seria futuro.
O livro "Tecendo o Fio de Ouro" da Comunidade Shalom (aliás, muito bom) também fala sobre isso em uma parte dele. Não podemos parar no passado, em alguma situação que nos fez sofrer ou em outra que sirva de fuga para nossa situação atual! Também não podemos viver somente "pré-ocupados" (ocupados por antecipação) com o futuro, ou seja, sofrendo pelo medo de sofrer! Temos o presente e este "rio" que é a nossa vida tem que fluir normalmente, "descongelando" (se ficou parado) o passado e construindo no presente o futuro que esperamos.
Na realidade, trata-se de um trabalho de "Construção do próprio ser humano" (clique aqui para ver) no tempo que não para.