Ao ver as leituras da liturgia deste último dia do ano de 2010, participei de uma partilha que acontece por e-mail e, como se trata justamente de um tema sobre o qual eu já estava pensando em escrever, transcrevo meu comentário aqui. Espero que seja útil!
As leituras do dia são 1Jo 2,18-21 / Sal 96,1-2.11-13 / Jo 1,1-18.
A Palavra (o Verbo) se fez carne e habitou entre nós! (Jo1,14)
Mais à frente, neste Livro do Evangelho segundo S. João, João Batista se reconhece como a voz que clama no deserto.
Em Jo 1,8, o Evangelista afirma que João Batista "não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz".
Eis uma sutil, porém fundamental diferença, entre ser o Verbo (a Palavra) de Deus e ser a voz:
A Palavra é o conteúdo, a mensagem em si, o que se deseja transmitir. Num contexto mais amplo, é a origem e causa de toda ação (inclusive na criação narrada em Gn 1).
Interessante que aqui, não necessariamente estamos falando de palavra no sentido de um conjunto de fonemas ou de letras. Isso já seria um código (prova disso é que dependeria do idioma) que tenta traduzir para cada um de nós o significado do conteúdo que se desejou transmitir (este independeria do idioma).
É por isso (por exemplo) que o correto é terminar a leitura do Evangelho na Missa com "Palavra da Salvação" e não "Palavras da Salvação" (como infelizmente alguns teimam em fazer). A Palavra (o conteúdo a ser transmitido) é o próprio Jesus, a Salvação que veio nos trazer e, por definição, é somente uma. Mesmo sendo expressa por várias palavras (fonemas, letras...) em diversos idiomas diferentes, o sentido final (o que se deseja afirmar) é uma só Palavra, um só Verbo - Aquele que se encarnou e habitou entre nós - Jesus.
Mais um ponto interessante para verificar isto é que em Gênesis 1, Deus cria todas as coisas através da Palavra, descrita no livro com vários "faça-se" e um "façamos". Ora, antes do primeiro faça-se, existia somente Deus. Se Deus criou todas as coisas, o ar também foi criado por Ele. Antes de criar o ar, como se poderia pronunciar uma palavra, já que a propagação deste som precisaria de ar? É evidente que a Palavra neste contexto também é o conteúdo do que Deus desejava fazer e fazia - o conteúdo da ação criadora do Pai. Mais tarde (para nós, mas para Deus tudo é presente), também o próprio conteúdo da Redenção - Jesus.
Portanto, a voz é o canal, o veículo que pode transmitir este conteúdo (que é a Palavra) através de palavras compreensíveis por um determinado idioma. Era o papel de João ser a voz e não a Palavra, ser testemunha da Luz e não a Luz. Isso porque a Palavra é uma só, a Luz que ilumina os homens é uma só - Jesus.
Quando alguém tenta se colocar no lugar da Palavra, no lugar da Luz, e começa a pregar ou falar de suas próprias palavras, acontece o que narra a primeira leitura (I Jo 2,18-21). E quão grave é o versículo 19 de I Jo 2: "Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos, pois se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco."
Muitos dos Anticristos saíram do meio dos cristãos, desde os primeiros anos do cristianismo! Esses queriam substituir a Palavra da Salvação pelas suas próprias palavras - Jo1,11: "Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram." Não querem ser apenas a voz que clama, tentam ser a própria palavra... E quantos desses Anticristos estão hoje no mundo?
Senhor, que hoje o nosso coração queira ser voz que clama tua Palavra e não a nossa palavra. Que queiramos seguir Jesus, o Verbo encarnado, e não as vontades do mundo com suas palavras tentadoras, envolventes, enganadoras...
Vem e ilumina-nos com Teu Espírito Santo. Faz-nos refletir Tua Luz que ilumina o mundo. Ajuda-nos a ser o que a tua Palavra criadora chamou-nos a ser no momento de nossa concepção.
Deus seja louvado pelo ano que passou e por mais este ano que se inicia. Sejamos, pois, a voz que clama também durante este ano nesse deserto. Amém.
Abraços a todos! Feliz e abençoado ano novo!
.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente e agregue conhecimento. Cresçamos juntos!!