Nas palavras de saudação do anjo à Maria, já é possível perceber uma alusão à Imaculada Concepção de Maria: Ela é a Cheia de Graça! Cheia, repleta, completamente preenchida pela Graça de Deus!
Aliás, dentro do mesmo assunto, quando falamos de pecado original não significa algo que o recém-nascido tenha cometido. É um conceito que nos liga aos nossos primeiros pais, ao primeiro pecado que um ser humano cometeu. É, em suma, a ausência da graça divina em nós. Essa graça estava presente em Adão e Eva, mas a humanidade a perdeu a partir desta primeira falta. Ora, se pelo Batismo recebemos o Espírito Santo em nós, é fácil intuir que o pecado original é apagado pelo Batismo.
Voltando a falar de Maria, ela é chamada de Imaculada Conceição porque ela foi concebida e nasceu sem o pecado original, ou seja, cheia da graça de Deus. Foi um privilégio, um dom único que Deus lhe concedeu: "em vistas dos méritos de Jesus Cristo, o Redentor do gênero humano, preservada isenta de toda a mancha do pecado original." (Bula Ineffabilis, DS 1641). Podemos dizer que ela foi a primeira pessoa a experimentar a salvação de Jesus, em previsão da própria salvação que Jesus iria realizar.
Ser cheia da graça de Deus é desejar fazer de sua vida uma inteira e completa ação de Deus, é seguir a vontade de Deus em tudo. Isto requer a humildade de unir a própria vontade aos desígnios de Deus. Não se trata de se anular - pelo contrário - trata-se de finalmente ser o que Deus sonhou quando nos fez e, consequentemente, é o caminho para a felicidade e realização enquanto ser humano.
Curiosamente, pensei num termo que seria o contrário para "cheia de graça" e que é bastante utilizado: "cheia de si"!
Uma pessoa cheia de si é aquela justamente que coloca suas vontades acima de tudo e de todos e, certamente, a humildade não é uma das qualidades de uma pessoa assim.
Poderíamos dizer que esta pessoa está preenchida somente de si própria, ou seja, tudo em suas ações está direcionado para si mesmo. Em outras palavras, está fechada aos verdadeiros relacionamentos que pressupõem trocas de experiência e falta o reconhecimento do outro enquanto sujeito, com desejos e anseios também. O centro de sua atenção está nela mesma.
Por isso, achei que "cheia de si" seria um bom "antônimo" para "cheia de graça", pois na primeira expressão, não há espaço para a graça de Deus que é abertura ao outro, traduzida pelo amor. A segunda é, justamente, o esvaziamento de si próprio para que a graça de Deus realize justamente aquilo para o qual fomos feitos: amar.
E o autor da salvação realizou exatamente um "esvaziamento" de si mesmo, pois sendo Deus, não se apegou às prerrogativas divinas, mas se encarnou como humano para realizar no ser humano a salvação, indo até o extremo da morte de cruz (Flp 2,6-8).
Busquemos, portanto, sermos a cada dia menos "cheios de nós" e busquemos a graça de Deus que veio habitar em nós desde nosso Batismo. Que Maria, a cheia de graça, venha em nosso auxílio e continue a interceder por nós.
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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Cheia de Graça x Cheia de Si
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