Na terceira parte deste tema Criação e Evolução (3) já postada, vimos que o objetivo das Sagradas Escrituras não é dar uma aula de ciências e, portanto, não é no sentido literal que está o que Deus quer nos afirmar, embora tenha se utilizado da linguagem humana dos hagiógrafos (pessoas que escreveram sob a ação do Espírito Santo). A linguagem (incluindo aí também o estilo de escrita) é um meio para expressar algo (ou alguém) que transcende (ultrapassa) a própria linguagem, o próprio Homem, todo o universo.
Portanto, a interpretação das Sagradas Escrituras não deve ser realizada somente pelo sentido literal, mas ir além do mesmo, observando o estilo literário, a época da escrita, a época narrada, os aspectos culturais e também a importantíssima unidade da Sagrada Escritura como um todo.
Neste trabalho de estudo profundo da Bíblia, a Igreja tem se dedicado desde sua instituição por Jesus. Lembremo-nos que muitas vezes o próprio Jesus se sentou com a Igreja embrionária (os apóstolos) e lhes explicou as escrituras do primeiro (ou antigo) testamento, mostrando-lhes que o sentido das mesmas apontavam sempre para a vinda d'Ele, o Messias, o Salvador entre nós. A ponto de João escrever no início de sua narrativa do Evangelho de Jesus um texto que remete também ao início do livro do Gênesis, fazendo um paralelo entre a antiga e a nova criação:
- "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito." (Jo 1,1-3)
- "No princípio, Deus criou os céus e a terra" (Gn 1,1)
Lembram que na primeira narrativa da Criação no Gênesis Deus cria pela sua Palavra? A Palavra aqui é mais que um simples vocábulo, que um conjunto de letras. É a própria essência criativa e organizadora de Deus, a capacidade de organizar o caos, de ordenar o que é desordenado. Indo além, também demonstra a capacidade de comunicação, de organizar pensamentos, raciocínios, idéias que podem ser comunicadas.
- "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade." (Jo 1,14)
Ora, é muito fácil intuir de quem João está falando aqui: o Verbo (a Palavra - o Logos) é o próprio Deus (Jo 1,1) e se encarnou como um ser humano - Jesus. Em Jesus podemos ver a harmonia da criação. Ele é a expressão do que humanamente nós deveríamos e fomos capacitados a ser: imagem e semelhança de Deus.
A nossa "imagem e semelhança" está longe de querer designar questões físicas ou mesmo uma igualdade total e absoluta. Mas é nítido que o ser humano tem capacidades que nenhum outro animal possui, entre elas a inteligência racional (criatividade, capacidade de ordenar, de organizar pensamentos, de comunicar-se...) Percebem aqui um aspecto da imagem e semelhança, evidentemente limitadas se comparadas a Deus?
Bom, depois de mais estas considerações sobre o sentido literal e o que o texto tem como objetivo expressar, pergunto: se a criação de tudo (criaturas sem vida, plantas, animais irracionais, seres humanos) não tiver sido num mesmo momento ou não tiver sido em 6 dias, as Escrituras deixam de ser verdadeiras? De outra forma, considerar que Deus é o criador de tudo o que existe invalida totalmente a teoria da evolução das espécies?
A pergunta que será tratada na próxima postagem: Deus não poderia ter escolhido criar pela evolução? Isto o faz menos criador?
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